Carla estava se sentindo super
triste naquele dia. Os pensamentos estavam longe, o coração estava apertado,
nada a animava. O filme na TV estava chato, a música desanimada, a internet um
porre. Nem conversar com os amigos estava valendo a pena. Todos os seus
pensamentos estavam a metros de distância.
A vontade dela era simplesmente
arrumar as malas, correr para o aeroporto e pegar o primeiro voo pro primeiro
lugar que aparecesse e ficar por lá tempo suficiente para que todas as pessoas
do mundo esquecessem de sua existência. Ela queria fugir de tudo e de todos.
Queria tentar recomeçar, só não sabia o que recomeçar. Ela tinha certeza que
mesmo entrando em um avião qualquer e chegando a uma cidade diferente, todos os
seus sentimentos iriam embarcar com ela e viveriam com ela mais um bom tempo.
O celular tocou e após ler a
mensagem, a decisão foi tomada. Mudou de emprego, mudou o cabelo, fez tatuagem,
colocou piercing, procurou outro apartamento e trocou de carro. Alguns dias
depois já começou a se sentir diferente. Já se sentia outra pessoa. Se sentia
um pouco mais viva. Tudo isso se transformou em motivação para mudar ainda
mais... queria mudar mais. Precisava.
Dois anos depois, Carla desembarcava
em Porto Alegre. Seu novo endereço era bem próximo ao centro da cidade. Fácil
de chegar a qualquer lugar. Abriu a mala, trocou sua roupa e foi resolver
algumas coisas antes de começar a trabalhar.
Caminhou pela cidade pra comprar
tudo novo. Sofá, mesa, geladeira, fogão, cama, tudo! TUDO NOVO. Não queria nada
que fosse parecido com o que tinha em seu apartamento em São Paulo. Aquela vida
tinha ficado pra trás.
Saindo da loja, parou para comer.
Estava cansada e faminta. Só pensava em comer alguma coisa, chegar em casa e se
jogar no colchonete que tinha acabado de comprar e seria sua cama até que todos
os móveis fossem entregues.
Um sanduiche de frango e um suco de
laranja. O cansaço era tanto que não conseguia comer. Metade do sanduiche foi
embalado pra viagem. Ufa! Ela pensou. Agora é só ir pra casa dormir.
Na esquina da lanchonete, em frente
a um hotel, um carro para.
Carla paga a conta e sai toda
atrapalhada carregando sua cama provisória.
O motorista do carro retira do porta-malas
sua bagagem e o fecha. Carla atravessa a rua.
O motorista dá a volta no carro e
entrega a chave para o manobrista do hotel.
Carla para pra arrumar o colchonete
debaixo do braço.
O Motorista pega a sua mala e se
fira para a rua.
Carla termina de se arrumar. Está
pronta pra ir pra casa.
O Motorista olha pra Carla e fica
paralisado.
Carla, muito sem querer olha para a
porta do hotel.
O colchão cai no meio da rua.
Os dois se olham.
Carla reconhece Paulo. É ele! É ele
sim!
Paulo abaixa o rosto e olha
fixamente para o chão.
Carla pega o colchonete do chão e
deixa uma lágrima cair do seu rosto.
Paulo entra no hotel sem tirar o
olhar do chão.
Carla corre pra casa, se troca,
coloca o colchonete no chão, deita e deixar que suas lágrimas lavem seu rosto.
De repente uma saudade
absurda invadiu seu coração. Ele estava na cidade! Muito perto dela. Por favor,
Deus. De novo não!
"Recomeçar, depois de um tempo tão longe
Quero ter você perto de mim"